terça-feira, 16 de março de 2010

Provérbios do Inferno - William Blake

Provérbios do Inferno
William Blake (1757-1827)

No tempo de semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta.

Conduz teu carro e teu arado sobre a ossada dos mortos.

O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria.

A Prudência é uma rica, feia e velha donzela cortejada pela Impotência.

Aquele que deseja e não age engendra a peste.

O verme perdoa o arado que o corta.

Imerge no rio aquele que a água ama.

O tolo não vê a mesma árvore que o sábio vê.

Aquele cuja face não fulgura jamais será uma estrela.

A Eternidade anda enamorada dos frutos do tempo.

À laboriosa abelha não sobra tempo para tristezas.

As horas de insensatez, mede-as o relógio; as de sabedoria, porém, não há relógio que as meça.

Todo alimento sadio se colhe sem rede e sem laço.

Toma número, peso & medida em ano de míngua.

Ave alguma se eleva a grande altura, se se eleva com suas próprias alas.

Um cadáver não revida agravos.

O ato mais alto é até outro elevar-te.

Se persistisse em sua tolice, o tolo sábio se tornaria.

A tolice é o manto da malandrice.

O manto do orgulho, a vergonha.

Prisões se constroem com pedras da Lei; Bordéis, com tijolos da Religião.

A vanglória do pavão é a glória de Deus.

O cabritismo do bode é a bondade de Deus.

A fúria do leão é a sabedoria de Deus.

A nudez da mulher é a obra de Deus.




Origem do texto: Da tradução de José Antônio Arantes. São Paulo, Iluminuras, 1987.

Há uma edição bilíngue recente disponível: William Blake. Poesia e prosa selecionadas. S.P., Nova Alexandria, 1993.

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